quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Bom dia

Há um mundo lá fora, há. Um gorgolejar suspirado de uma cidade borbulhante, mergulhada no seu próprio torpor da meia noite. Ou da uma da manhã...
Cá dentro apenas se ouve o respirar eletrónico de um computador a implorar pelo merecido descanso, após um dia de trabalho mais longo do que o habitual.
Vai dormir, pede-lhe. Deixa-me em paz.
Só mais uma música, só mais um texto, só mais um parágrafo, só mais uma conversa.
Com as pernas enfiadas debaixo dos lençóis, os braços desnudos e as costas apoiadas numa pilha de almofadas mal montada, prolonga a atividade, a inebriação de uma vida que começa, ainda que a meio. Ou talvez fosse mesmo no princípio e até agora tenha vivido o prólogo.
Solta o cabelo, prende-o novamente. Abre uma nova janela, escreve o endereço de um site, lê-o, fecha-o, pisca os olhos.
Come uma sobremesa, bebe um pouco de leite frio e pensa que tem ainda de lavar os dentes. E de dormir, para amanhã acordar cedo e cumprir os objetivos laborais traçados.
Foi um banal dia bom... um dia bom banal... Foi um dia banal e bom, que pretende prolongar enquanto os olhos sobreviverem à luta com a dormência provocada pelo acumular de demasiadas horas de vigília.
Combate um pouco mais, até que desiste de esfregá-los e de, a custo, os reabrir.
É deixá-lo ir, dar-lhe espaço, e voltar a acordar para mais um dia banal. Para mais um dia bom.