quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Adeus, 2015. Obrigada.

O final de cada ano leva-nos, invariavelmente, a um balanço dos 365 dias que passaram, de tudo o que foi vivido, dito e sentido ao longo dos últimos doze meses. É um exercício interessante contrapor a pessoa que éramos no dia 1 de janeiro com a que somos no dia 31 de dezembro do mesmo ano. Em princípio crescemos, sabemos um pouco mais sobre alguma coisa porque ganhámos ou perdemos pessoas, acumulámos mais experiências e, em princípio, mais conhecimento. Se tudo tiver corrido como é suposto, deixámos a nossa marca em alguém e alguém (ou vários alguéns) deixou a sua marca em nós, pelo que estamos em constante mudança e somos pessoas novas todos os anos, ainda que a nossa essência não mude.
2015 foi, para mim, um ano de autoconhecimento e de recuperação. Lenta, sim, até porque me trouxe logo três mudanças significativas que alteraram a minha forma de ser. Comecei, felizmente, o ano com uma mudança de trabalho que hoje me permite dizer que acordo com um propósito e que sou feliz naquilo que faço; mudei de casa para ir viver com uma amiga recuperada no ano passado; e, pouco depois, alterei o meu estado civil, marcando assim uma nova etapa na minha vida adulta.
Ainda assim, a primeira parte do ano não foi brilhante e penso nela sempre como uma fase escura, ausente de luminosidade, pautada por alguma insegurança, instabilidade e mal-estar que fui tentando contrapor com uma inscrição no ginásio, a recuperação de uma amizade de adolescência, a aquisição de uma nova amizade e a criação de um grupo de escrita.
O ponto de viragem foi a semana incrível que passei em Abrantes. É impressionante quão bem aquela terrinha algures em Portugal me fez sentir. Regressei recuperada, com um novo ânimo, feliz e tranquila, entrando, então, na segunda parte do ano, esta sim mais colorida, cheia de luz e de fé no amanhã, com almoços e fins de tarde passados na praia, debaixo de um sol quente que se fez sentir até bastante tarde. Recuperei mais uma amizade há muito perdida e, graças a ela, senti-me um pouquinho mais em casa. Paralelamente, alimentei as que já tinha. Fui entrevistada no Porto Canal, lancei um livro e fui apresenta-lo a Lisboa, onde reencontrei parte da minha família e onde celebrei com os meus amigos mais próximos. Comecei a correr por pressão, mas acabei por cortar a meta da S. Silvestre do Porto, com vontade de atingir outros objetivos nesta área. Escrevi seis crónicas para uma plataforma pública e dois contos para uma outra. Assisti a praticamente todos os concertos que queria e fui duas vezes a Lisboa, onde passeei quer de dia quer de noite, relembrando-me, assim, do quão especial aquela cidade é.
Foi o primeiro ano em muitos em que não saí de Portugal, mas talvez isso tenha contribuído para me convencer um pouco mais de que é de facto aqui a minha casa, rodeada das minhas pessoas, dos sítios que me são conhecidos e a seguir as minhas rotinas habituais.
Senti-me muito feliz e amei muito, por vezes iludida por uma errada sensação de pertença. Vivi, também, momentos de tristeza intensa, de descrença e de ausência de esperança.
Não tendo sido um ano espetacular, 2015 foi um bom sucessor de 2014, uma evolução muito positiva.
A lição que me trouxe foi que, dê a vida as voltas que der, demos nós as cabeçadas que dermos, a base de tudo é a família: os pais/filhos, irmãos, cunhados, sobrinhos, tios e primos são quem realmente importa.
A 2016, se me for possível, peço menos das partes más e mais das partes boas, sem grandes oscilações.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

São Silvestre - Porto 2015

Não somos atletas, embora, em maior ou em menor grau, sejamos todos desportistas. Traçámos o objetivo familiar da S. Silvestre do Porto de 2015 e fomos treinando (uns mais do que outros) os 10km, sempre motivados para conseguir fazê-los no mínimo de tempo possível.
O nosso intuito não era o de competir com ninguém, mas o de começar e acabar em equipa, e foi isso mesmo que fizemos, com uns a puxar pelos outros.
Falando por mim, as subidas dão-me cabo do corpo, da respiração e da resistência. Ainda assim, o espírito de equipa revelou-se algo incrível, talvez mesmo indescritível: a força do incentivo dos outros elementos, olhar para o lado ou para a frente e ver que estávamos sempre todos juntos, não ficar nunca ninguém para trás e as frases entusiasmadas que íamos ouvindo foram, no meu caso, suficientes para não me fazer abrandar nalguns dos troços mais complicados (como foi o caso da subida final do Túnel de Ceuta).
Ao longo de todo o percurso havia gente pendurada nas varanda ou nos passeios a apoiar (achei sempre que não era incentivo nenhum, mas percebi que estava redondamente enganada!) e adorei o desportivismo e companheirismo de todos os corredores – com gritos, cantorias, piadolas (é verdade, os portuenses têm uma capacidade fantástica de encontrar sempre uma piada para dizer em qualquer situação) –, que estavam em competição, é certo, mas no melhor dos espíritos de diversão e de convívio.
Infelizmente, partimos com um elemento a menos e cheguei ao final mais cansada do que alguma vez me lembro de ficar (tive ali uns momentos de desespero em que maldisse o momento em que decidi juntar-me àquela ideia louca), mas parece-me que para o ano a dose se repete, sempre a juntar membros da família, sem lesões, de preferência.

Se os tempos melhorarem, excelente!



♥ segunda feira



You can tell by the way
She walks that she's my girl
You can tell by the way
She talks, she rules the world

And then she'd say, "It's okay
I got lost on the way
But I'm a supergirl
And supergirls don't cry"

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Vícios adolescentes

No último concerto a que fui, tal como o previra, a maioria do público eram adolescentes. Na minha inocência, fiquei antecipadamente descansada com a ideia de sair de lá com as roupas e o cabelo a cheirar a fumo porque não só não se fuma em sítios fechados, como o espectro de idades não incluiria fumadores.
Obviamente, dois erros crassos de julgamento embora, na verdade, a sala fosse devidamente ventilada, o que me evitou um novo perfume desagradável. Ainda assim, o que me impressionou foi que, tal como tinha previsto, a plateia era, maioritariamente, composta por menores de vinte anos, sendo que havia por lá muitos miúdos com os seus 13/14 anos. Até aqui tudo bem, claro, só lhes faz bem. No entanto, o cheiro a ganza era intenso e quase todos eles tinham um copo com conteúdo alcoólico nas mãos.
À primeira vista, é fácil ignorar, até porque os miúdos hoje em dia têm aspeto de serem bastante mais velhos do que aquilo que são, mas analisando melhor, era mesmo possível ouvir-lhes ainda as vozes que não tinham passado pela transformação para a voz adulta e os comportamentos imaturos de meninos, ainda quase crianças, cujo organismo é, obviamente, incapaz de lidar com o álcool (ignoremos, para este efeito, as drogas).
De certa forma, consigo compreender a pressão dos pares, o desejo de pertencer, de sentir aquela euforia que os outros dizem experimentar, embora a mim, no baixo alto dos meus 28 anos, essa atitude de ceder à corrente me pareça apenas absurda. Mas é para isso mesmo que se passa por uma adolescência, certo? Para experimentar, fazer asneiras, cometer erros e, no final do túnel, saber distinguir o certo do errado.
Há, todavia, outra questão que me faz confusão e que é transversal a qualquer idade: o que é que leva pessoas a embebedarem-se intensamente num concerto? Pagaram um bilhete, neste caso para ver ao vivo um grupo a que não têm acesso sempre que lhes apetecer, e exageram no álcool possivelmente ao ponto de ficarem com a mente tão turva que não só não conseguem assistir devidamente ao concerto como, talvez, não conseguirão recordar-se de nada no dia seguinte.

Nenhum vício é bom, nem mesmo os hábitos saudáveis levados ao extremo, mas fico com pena – e algum receio, confesso – quando vejo aqueles que há não muito tempo eram apenas crianças inofensivas optarem por comportamentos desviantes que, em muitos casos, não têm retorno.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Sem-abrigo

A porta aberta chamava o ar frio da manhã a entrar, sem barreiras nem controlo, apenas uma passagem direta para o calor esforçado do interior.
Lá fora, a rua sinistra, tantas vezes percorrida e pisada com todos os pares de sapatos que possuía, apresentava-se como um elemento estranho, desconhecido. Hostil, até, repleto de caras anónimas num mar de medos, de sustos e de repreensões alheias.
Gelava, fixando as pessoas que desfilavam à sua frente, apressadas para continuar as suas vidas tão cheias e completas que se desinteressavam do que as rodeava e daquele par de olhos que as perscrutava, querendo saber mais do seu caminho e, ao mesmo tempo, temendo descobrir a complexidade daqueles seres, de certa forma superiores.
Lá dentro, no quente conforto de uma casa habitada, os rostos familiares com que não se identificava escarneciam, evidenciando-lhe o seu desencaixe, a sua ausência de pertença. Não estava lá e não estava cá, era parte deles, mas não tinha lugar ao seu lado, naqueles sofás de couro bem cuidado, naquelas canecas de chá fumegante, naquelas mantas polares, naquelas conversas fluidas de quem se conhece bem e partilha momentos quase sem ter de, para isso, falar.
No vidro da porta descobriu o seu reflexo. Os olhos quase fechados, o nariz fino, a ausência de sorriso nos lábios, o queixo arredondado e os traços distintivos eram seus, sem dúvida, mas não se reconhecia neles. Era a sua cara, mas não era a sua pessoa, porque não se revia naquele ser apagado, despojado de qualquer brilho.
Olhando um pouco mais fundo, encontrou uma escuridão que sabia existir, que sentia, mas cuja intensidade da negritude assustava, porque aparentava ser um ponto sem retorno, do fundo do qual era impossível recuperar.
Punha um pé de fora e uma onda de arrepios enregelados sacudiam-lhe o corpo confuso. Refugiava-se lá dentro até o calor excessivo lhe colar as roupas à pele, num incomparável desconforto.
A dança sucedia-se, sempre refletida naquela porta de vidro que lhe seguia cada movimento, rangendo de vez em quando, espicaçada pelo vento provocado por aquela pessoa fora de si e do mundo, querendo descobrir qual o lugar a que pertencia. Lá dentro, lá fora ou no intermédio, com um pouco dos dois, com nada de ambos?
Naquele limbo estonteante, a porta de vidro sugava-lhe um pouco mais da sua alma a cada passo em frente e a cada passo atrás, perdendo-se na indecisão e na indefinição de não se sentir bem em lado nenhum, nem na sua própria pessoa.
Não dormia na rua, mas era um sem-abrigo.

♥ segunda feira



I was born in a thunderstorm
I grew up overnight
I played alone
I'm playing on my own
I survived

You took it out, but I'm still breathing

I had made every single mistake
That you could ever possibly make
I took and I took and I took what you gave
But you never noticed that I was in pain
I knew what I wanted; I went in and got it
Did all the things that you said that I wouldn't
I told you that I would never be forgotten
And all in spite of you

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Recomeçar

Os novos inícios têm tanto de entusiasmante como de assustador, sobretudo se nos forem impostos por força de algumas circunstâncias que não podemos controlar.
A princípio surge a confusão, que conduz à tomada de decisão desse mesmo novo começo do qual desconhecemos tudo, obviamente. Não sabemos o que nos espera, como vamos lidar com um novo dia-a-dia sem os hábitos a que estávamos já intimamente ligados. Vem, então, o medo de que esta nova fase não traga nada de bom em relação àquela que se deixou para trás. Para quê mexer no que está quieto? Talvez não fosse bom, muito menos ótimo, mas era estável e, mais importante, era aquilo que conhecíamos, o que tínhamos como garantido sempre que acordávamos.
Contudo, há uma parte de nós, mesmo que seja a mais silenciosa, que ambiciona esse futuro planeado, essa ideia de mudança que projetámos, em contraste com aquilo que tivemos de deixar para trás.
Mantermo-nos fiéis à decisão não é simples: exige força de vontade e capacidade de abstrair o pensamento que teima em fugir para aquele único assunto, de tantos que podia escolher. É para isso que existem os amigos, os ginásios, variadíssimos desportos, cursos, leituras, filmes, séries e demais distrações que passamos a usar como escape daquilo que nos perturba e consome hora após hora, mesmo no tempo em que fechamos os olhos à espera, em vão, de que o cérebro desligue.
Algures por aí temos de conseguir aceitar, de forma a mantermos a nossa palavra porque, no fundo, sabemos que o novo estado de coisas, ainda que instável e turbulento, tem potencial para trazer algo de muito melhor do que aquele ao qual fechámos a porta.
É então que, quase sem dar por isso, já sem pensar tanto no assunto, os grumos da farinha nos ovos desaparecem, dando origem a uma massa consistente, amarela e aveludada, pronta a cozinhar. As angústias, pois, atenuam, dão lugar à tranquilidade por que fomos lutando e o entusiasmo cresce, porque percebemos que, de facto, aquilo que conhecíamos não era, forçosamente, o melhor para nós. Talvez agora a vida não esteja a emoção que imaginávamos nos momentos iniciais de picos de positivismo, mas está, na verdade, mais serena. Pronta a receber tudo de bom que estiver à nossa espera e que não estávamos capazes de apreciar devidamente.

Tudo vem no tempo certo para cada pessoa, desde que nos preparemos interiormente para isso.

domingo, 13 de dezembro de 2015

A dor de saber

Olhei para ti, sabendo que as nossas horas estavam contadas. Quis pedir-te mais um beijo, mais um abraço, mas a minha voz estrangulou-se: se não davas era porque não querias.
Apertei-te um pouco, indiciando-te a minha necessidade de ti, do teu carinho, do teu tempo e do teu amor. Quis mais, só mais um pouquinho. Aquele pouquinho que me falta... que nos falta para não sermos eu e tu, mas para sermos nós. O nós que nunca quiseste que fôssemos, porque a ideia é mais aliciante do que a realidade de um nós que obriga a que abdiques de algumas coisas para a concretizarmos.
Não te cheguei. Nunca fui suficiente para ti, para os teus abraços, para o teu tempo, para as tuas cedências nem para o teu amor.
Fui sendo parte de algo, um bocadinho de qualquer coisa. Nunca fui a coisa. Por muito que te mostrasse a melhor versão de mim mesma, nunca fui suficiente.
Tentei olhar-te nos olhos, mas os meus estavam turvos da despedida interior que nos vou fazendo. Decidi em mim, tenho o mundo como minha testemunha.
Pousei as minhas mãos nos teus braços, fechando-as com a força de que era capaz. Seria uma das últimas vezes em que te tocaria, em que estaríamos só nós os dois ali, naquela sala lúgubre. A minha respiração pesada e acelerada contrastava com a tua tranquila e serena, tão alheio ao que se passava dentro de mim, diante de ti. Não querias saber. E eu queria não querer saber.
Despedi-me de ti com um até amanhã mentido. Foi o primeiro dos meus adeus. Teria alguns até ao adeus final, para me permitir ir habituando à ideia de que a minha vida não entra na tua, não se encontra com ela.
Não sou eu a desistir, a baixar os braços ou a ser fraca, mas não tenho forças para aguentar a dor que me paralisa de cada vez que aquela imagem se instala no meu cérebro, piscando furiosamente, sem parar, até me conduzir a uma loucura ciumenta de uma partilha indesejada.
Queria-te para mim, para seres meu e eu ser tua e, juntos, dominarmos um mundo incrível que seria aquele que construiríamos em par.
Tu querias-me numa outra medida, que eu nunca seria capaz de cumprir. O meu amor por ti é demasiado forte para me aguentar ao teu lado.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Terrores noturnos

Tinham-se passado cerca de quatro meses desde a tarde que tudo mudara. Não no sentido convencional nem com um marco de mudança definido, mas fora como se os ventos tivessem começado, apenas porque sim, a soprar a seu favor.
Sentada no sofá, coberta por duas mantas quentes, via esses últimos meses passarem-lhe diante dos olhos em forma de fotografias e de pequenos vídeos relativamente acelerados, ao som de uma música romântica e bem-disposta, até que a sucessão de imagens travou a fundo e estacou naquela noite gelada que nem as iluminações natalícias atenuavam.
O coração esmurrava-lhe o peito com violência e o nó da angústia estrangulava-lhe a garganta. Queria falar, desabafar, gritar, mas perdera a voz. Nem chorar conseguia, ainda que sentisse que era essa a única forma de aliviar aquele aperto.
Tinha sido culpa sua: permitira-se acreditar e relaxara na certeza de que era para ser. Achara que daquela vez tinham tudo para resultar, para serem mais fortes do que os medos, mas dera-se conta de que os fantasmas não eram espectros do passado que surgiam de vez em quando para os atormentar. Tratavam-se, afinal, de monstros que partilhavam, no momento presente, a vida com ele, rasgando, por consequência, a dela em incontáveis fiapos sangrentos.
Não sabia dele. Procurava-o por todo o lado não chegando a contactá-lo para não o empurrar para mais longe ainda. Mentia. Não lhe falava para não ter de ouvir a verdade dolorosa de que não lhe era suficiente.
As duas da manhã chegaram e passaram numa sequência acrobática de olhos no telemóvel e na televisão, fingindo distrair-se. Tentando, desesperadamente, distrair-se.
As três da manhã apresentaram-se como uma luta estafante contra o sono. Não podia ir dormir sem saber que ele voltara para casa, que estava lá sozinho e que se lembrara de lhe mandar um beijo antes de dormir.
Às quatro da manhã soube que estava a fazer figura de parva e que era em vão que esperava, mas deixou que as cinco da manhã a encontrassem, ainda, numa sonolência não admitida, agarrando o telefone firmemente na mão direita, confirmando que tinha a internet e o som ligados.
Não era falha informática. Era falha humana. Dele ou dela, não sabia. Provavelmente dos dois, numa culpa muito diferente.
Deitou-se, soluçou forçando o choro que não a aliviou e adormeceu, por fim, com o telemóvel pousado na almofada.
Viu-os juntos; ouviu-lhe o riso de mulher despreocupada, segura de si e dele. Quis fugir e virar costas, mas a força magnética do nefasto proibido manteve-a de olhos pregados naquele par abraçado, que construía, diante de si, memórias que ficariam para sempre.
Acordou sobressaltada e dorida. Dormira umas quatro horas, não muito mais, e não descansara nada. Sentia-se sem forças nem vontade para encarar o dia que vivia para lá da persiana fechada, mas aterrorizava-a a ideia de adormecer e regressar àquela realidade do pesadelo.
Respirou o aroma do café até este estar demasiado frio para o conseguir beber. Aqueceu-o, sorveu um golo pouco satisfatório e deitou o resto no lava-loiças. No telemóvel ainda nada.
Fez duas torradas, mais para se distrair do que para matar a fome, e foi-se forçando a trinca-las diante de um desinteressante programa de televisão sobre qualquer coisa.
Não sabia quanto tempo mais aguentaria aquele equilíbrio, uma vez que já pendia mais para o lado da loucura do que para o da sanidade mental. O seu lado racional exigia-lhe que se deixasse de tretas, de sonhos e de imaginações ensandecidas e que assumisse uma postura menos submissa aos seus caprichos mimados, que lhe diziam que talvez devesse aguentar um bocadinho mais. Só até o convencer… só até ele se convencer de que não precisava de mais ninguém.
A meio da tarde, os seus olhos inchados e sonolentos leram uma mensagem dele, exatamente nos moldes que tinha imaginado. Nada sobre a noite anterior, nada sobre gostar dela ou ter sentido a sua falta. Só um vago interesse em saber se dormira bem e se queria lanchar com ele.
Dormi bem, sim. Mas talvez devesse ter dormido um pouco mais ;), respondeu na mesma mensagem em que aceitou o convite para lanchar.
Que se lixe, pensara. Afinal de contas, hoje é comigo que ele quer estar.
Assim que o encontrou, abraçou-o com força, pousou-lhe um demorado beijo nos lábios e perguntou-lhe, numa animação ensaiada, sem saber de que tipo de resposta estava à espera:
- Divertiste-te, ontem?

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

♥ segunda feira





We travel the world to escape from the usual
And take time to breathe
Everyhing that you tought me was beautiful
When I learned to see

That happiness is too far from home
You can take me alive, but don't leave me alone
It's the end of the world I need you to go
With me right now

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Apresentação do "Lado lunar" no Porto


Nesta sexta feira, dia 4 de dezembro, será feita uma sessão de apresentação do meu livro Lado lunar, na livraria Flâneur, pelas 21 horas. Será mais uma chávena de chá ou um copo de vinho com uma fatia de bolo entre amigos, enquanto se fala um pouco sobre os contos que compõem o livro.
Estão todos convidados a aparecer!