domingo, 13 de dezembro de 2015

A dor de saber

Olhei para ti, sabendo que as nossas horas estavam contadas. Quis pedir-te mais um beijo, mais um abraço, mas a minha voz estrangulou-se: se não davas era porque não querias.
Apertei-te um pouco, indiciando-te a minha necessidade de ti, do teu carinho, do teu tempo e do teu amor. Quis mais, só mais um pouquinho. Aquele pouquinho que me falta... que nos falta para não sermos eu e tu, mas para sermos nós. O nós que nunca quiseste que fôssemos, porque a ideia é mais aliciante do que a realidade de um nós que obriga a que abdiques de algumas coisas para a concretizarmos.
Não te cheguei. Nunca fui suficiente para ti, para os teus abraços, para o teu tempo, para as tuas cedências nem para o teu amor.
Fui sendo parte de algo, um bocadinho de qualquer coisa. Nunca fui a coisa. Por muito que te mostrasse a melhor versão de mim mesma, nunca fui suficiente.
Tentei olhar-te nos olhos, mas os meus estavam turvos da despedida interior que nos vou fazendo. Decidi em mim, tenho o mundo como minha testemunha.
Pousei as minhas mãos nos teus braços, fechando-as com a força de que era capaz. Seria uma das últimas vezes em que te tocaria, em que estaríamos só nós os dois ali, naquela sala lúgubre. A minha respiração pesada e acelerada contrastava com a tua tranquila e serena, tão alheio ao que se passava dentro de mim, diante de ti. Não querias saber. E eu queria não querer saber.
Despedi-me de ti com um até amanhã mentido. Foi o primeiro dos meus adeus. Teria alguns até ao adeus final, para me permitir ir habituando à ideia de que a minha vida não entra na tua, não se encontra com ela.
Não sou eu a desistir, a baixar os braços ou a ser fraca, mas não tenho forças para aguentar a dor que me paralisa de cada vez que aquela imagem se instala no meu cérebro, piscando furiosamente, sem parar, até me conduzir a uma loucura ciumenta de uma partilha indesejada.
Queria-te para mim, para seres meu e eu ser tua e, juntos, dominarmos um mundo incrível que seria aquele que construiríamos em par.
Tu querias-me numa outra medida, que eu nunca seria capaz de cumprir. O meu amor por ti é demasiado forte para me aguentar ao teu lado.

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